por ANTÔNIO CARLOS DUTRA (GANCHO)
Já nasceu caminhando, em 1931. Sua casa era o quintal do vô João, eterno patrono. Como se fosse nosso Maracanã. Ali dei os meus primeiros chutes. Para mim, o melhor “estádio” do mundo. Isso em meados dos anos 60, a fase dos amistosos (versus Teleunião era clássico) e dos torneios na região do Alto Taquari. Pegavam fogo. Quando tinha um jogo, eu e meu primo Paulo Porto (Pretão), morando no loteamento Figueira, com raras casas, já concentrávamos na sexta-feira, rogando para não chover, senão a sanga de acesso ao bairro transbordava, e os veículos ficavam no prejuízo: jogo cancelado na certa.
Como não lembrar o cheiro de Iodex que exalava do pequeno vestiário de madeira onde os atletas mais velhos “afumentavam” os músculos para aquecer, já que não tinha outro tipo de aquecimento? E o botequim? Colocavam-se cervejas e refrigerantes mergulhados na serragem, com gelo, comprados no armazém do sr. Pube Schaffer ou Ari Olsen, para os mais jovens.
Recordo-me das arquibancadas de madeira com cobertura de palha de palmeiras, que nos abrigava do sol e um pouco das chuvas. Do “parapeito” que limitava a torcida dos jogadores. E a minha primeira chuteira “BIG” de borracha? Nossa! Flutuava naquele rico gramado, que até parecia planejado, mas nada disso, era natural mesmo. E as redes das goleiras, “véu de noiva”, que o Portinho tanto fazia balançar, para minha alegria? Jogar ao lado dele era a glória.
O ponto alto era a torcida feminina, com d. Lelé, tia Vita, primas Ivete, Noemi, Cora, Lourdes do Orfelino e outras dezenas de mulheres, incentivando o jogo. Cada jogador que tocava na bola tinha seu nome ovacionado. Aííí Tércio! Aííí Valdir! Aííí Jaques! Aííí Vilson! Aííí Renato! Aííí Edemar! Nossa! Era uma pureza nunca mais assistida nos dias de hoje. Quanta emoção! Foram anos de muita magia. Ali passei boa parte da minha adolescência e juventude, fazendo o que mais gostava.
*Este é o primeiro texto da série que o colunista estreou, sábado passado, na edição impressa de “O Taquaryense”.