Pelos Cinco Continentes

O confinamento e a volta (aos poucos) à normalidade na Nova Zelândia

Taquariense Rodrigo Matias Leote relata o que vem vivenciando com a família do outro lado do mundo

Taquariense Rodrigo Matias Leote relata o que vem vivenciando com a família do outro lado do mundo

Rodrigo, a esposa e as duas filhas
Foto: Arquivo Pessoal

Ele saiu de Taquari em 2007, aos 19 anos, para morar e trabalhar em Porto Alegre. Em maio de 2018, fez uma entrevista para ser desenvolvedor de software na empresa Datacom, em Wellington.

Para a capital da Nova Zelândia, em setembro do mesmo ano, embarcou junto com a esposa, Cristine, e a única filha até então, Maria, em busca de melhor qualidade de vida.

Rodrigo Matias Leote, 34, é mais um participante da série “Pelos Cinco Continentes”, iniciada em meados de abril por “O Taquaryense”. A seguir, ele dá o seu relato acerca do que vem vivenciando com a família do outro lado do mundo em tempos de pandemia.

“Há 10 dias, não surge nenhum caso novo de covid-19 por aqui”

Chegamos a esta ilha isolada de tudo, cheia de belezas naturais, e em novembro de 2019 nasceu nossa segunda filha, Emília. Em janeiro de 2020, lembro que estava trabalhando quando um colega comentou que havia uma epidemia de um novo vírus na China. Era altamente transmissível e vinha causando uma quantidade expressiva de mortes. Aí começamos a nos preocupar.

A partir dali, a tensão nas notícias que íamos recebendo foi aumentando cada vez mais. Durante fevereiro, continuamos a vida normal, e a única medida do governo foi fechar as fronteiras para voos vindos da China. Pessoas procedentes de outros países podiam entrar, mas deveriam ficar isoladas por duas semanas.

Como moro relativamente perto do trabalho, eu ia a pé de manhã, voltava para almoçar e, antes de retornar ao escritório, levava nossa filha mais velha para a escola. As idas ao supermercado também continuavam normais.

À medida que o medo em relação a esse vírus foi aumentando e novos casos surgiram, algumas pessoas passaram a fazer estoque de produtos com medo de ficar sem. Com isso, alguns itens começaram a faltar, como álcool em gel, papel higiênico, farinha e fermento.

O primeiro caso de covid-19 por aqui foi em 28 de fevereiro. Logo após, com o considerável aumento de casos, o governo adotou medidas mais extremas. Em 19 de março, as fronteiras do país foram completamente fechadas. Ainda hoje, somente residentes ou cidadãos neozelandeses podem entrar, ficando isolados e sendo monitorados pelo governo por duas semanas após ingressar no país.

Em 21 de março, quando o mundo já reconhecia que havia uma pandemia em curso, o governo da Nova Zelândia apresentou um sistema de alerta de quatro níveis. O nível 1 seria o mais brando e basicamente não exigia muito das pessoas; o nível 4, o mais rigoroso, em que somente serviços essenciais estariam abertos e as pessoas deveriam ficar em casa.

Com a velocidade da evolução do número de casos e o crescente medo da população ao ver o que vinha acontecendo em países como Itália e Espanha, o governo iniciou o alerta nível 4 em 25 de março. O comércio praticamente parou por completo, permanecendo apenas supermercados, farmácias e postos de combustíveis. Estes ainda operavam com uma série de restrições, como filas bem espaçadas e um forte controle para garantir que o distanciamento social fosse respeitado.

Além disso, só era permitido sair às ruas para se exercitar, e cada um devia permanecer em seu bairro, sem se afastar muito. Lojas online passaram a vender apenas produtos considerados essenciais, como alimentos ou equipamentos de escritório (para pessoas como eu poderem trabalhar de casa).

Dado o rigor, com o comércio de portas fechadas, o governo criou um pacote de auxílio financeiro para as empresas impactadas pelo lockdown. Foram destinados 12,1 bilhões de dólares para o combate à crise. O valor auxiliou, mas não foi suficiente para impedir o grande impacto econômico. Infelizmente, muitas pessoas perderam o emprego.

Ficamos durante um mês no nível 4. Chegamos a ter 90 novos casos registrados num único dia. Mas, após esse pico, o número foi caindo diariamente. Quando chegamos perto de 10 casos por dia, o governo decidiu baixar para o nível 3. Deixamos de estar num lockdown total. As lojas já passaram a poder vender online, e restaurantes reabriram para tele-entregas apenas. Mas ainda o governo pedia o isolamento das pessoas.

Em duas semanas de nível 3, vimos os casos novos por dia praticamente zerarem. Na última, tivemos menos de cinco casos por dia e, algumas vezes, nenhum. Foi então que o governo anunciou a mudança para o nível 2, que é o em que nos encontramos atualmente. Podemos expandir a nossa “bolha” para mais pessoas, e reuniões com até 10 participantes são permitidas. Além disso, todo o comércio voltou a abrir, bem como as escolas. Ainda assim, pede-se que os estabelecimentos mantenham práticas de isolamento e distanciamento.

Felizmente, minha profissão permite que eu trabalhe remotamente. Tive de comprar uma cadeira de escritório logo antes do lockdown e trouxe alguns equipamentos do trabalho para minha casa. Desde então, tenho trabalhado todos os dias de casa. O escritório da empresa está fechado, e não há previsão de volta à normalidade.

Esse período de lockdown e isolamento foi bastante difícil, principalmente para nossa filha Maria. É muito complicado para uma criança de quatro anos ter de ficar praticamente presa dentro de casa. A gente sempre explicou a ela o que estava acontecendo, mas, mesmo assim, ela sentia muita falta dos coleguinhas. Agora já está de volta à escola e muito feliz.

Seguimos tomando cuidados, porém já fomos visitar alguns amigos e passear. No momento em que escrevo este texto, estamos há 18 dias no nível de alerta 2, com perspectiva de baixar para o nível 1. Há 10 dias, não surge nenhum caso novo de covid-19 por aqui, e existe apenas um caso ativo em todo o país. Desde o início, houve um total de 1.504 casos, entre confirmados e prováveis (1.481 pessoas se recuperaram, e 22 vieram a falecer). Vale salientar que estão sendo feitos muitos testes por aqui.

Temos muita saudade de nossa família. Os pais da Cristine, Antônio e Maria (nascidos em Taquari), moram na cidade de Urussanga, Santa Catarina. Os meus, Isolete e Ricardo, ainda moram em Taquari. Além da saudade, há a preocupação por eles estarem longe da gente neste momento de aflição. Pedimos sempre a Deus que proteja nossos familiares e todas as pessoas. Que possamos logo voltar à normalidade, dentro do possível, e que tiremos valiosas lições desta pandemia!

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