
JOÃO PAULO DA FONTOURA*
Uma das figuras públicas mais importantes da história de nossa Taquari é o comerciante e político de expressão local muito forte, republicano das primeiras horas, Antônio Porfírio da Costa, sócio da casa comercial José Porfírio & Irmão.
Essa casa comercial, fundada em 1875, não era algo plural; era simplesmente o maior empório de Taquari e região. Tão grande, tão importante, tão centro que era conhecida como “A Loja”.
Mas voltemos a Antônio. Ele nasceu em Mostardas, então povoado pertencente a São José do Norte, a 7 de outubro de 1850, e faleceu aqui mesmo, em Taquari, a 4 de maio de 1913. Foi casado com Alzira Serzedelo da Rocha Mesquita, tendo tido o casal nove filhos, dos quais destaco dois: a primogênita, Almerinda Mesquita da Costa, que aos 16 anos casou-se com Aleixo Rocha da Silva, e Adroaldo Mesquita da Costa, que já aos 10 anos era apontado pelo pai como de “grande futuro”.
A questão neste texto centra-se na morte de Antônio e na polêmica gerada. Acho que a questão da polêmica não era política nem comercial, tipo, briga por terras. Pela reação da filha Almerinda e do genro Aleixo, acredito que envolvesse “alcova”, “questão de lençóis”.
Do amigo historiador Lázaro Ramos recebi cópia do registro de óbito, para mim ilegível, e parte da transcrição feita pelo padre Manuel Campo Romero, a qual reproduzo abaixo para que os leitores tirem suas conclusões.
Ei-la:
Sua alma nos deixou para desacatar o princípio de autoridade espiritual e, com grave escândalo dos fiéis, seus filhos e (sic) Almerinda Mesquita da Costa e seu genro Aleixo Rocha não consentiram que o corpo fora conduzido à igreja da qual sempre foi benfeitor para receber os últimos sufrágios. Foi um ato reprovado por todos, porquanto, esquecidos do sentimento filial, tripudiaram as crenças daquele que sempre deviam respeitar para dar vazão aos instintos menos dignos contra a autoridade paroquial legitimamente constituída. Seu corpo foi sepultado no cemitério desta cidade, paz a sua alma e que Deus perdoe os filhos que assim procederam, sem ter consciência da falta grave que cometiam e do escândalo que causaram nesta paróquia. Esse escândalo era tanto maior (sic) um conceituado industrialista, frequentador desta igreja até os últimos momentos nesta cidade. Seus filhos não podiam ir de encontro às crenças de seu pai e ainda servir de sua morte, servir de suas paixões. Com meu protesto, faço meu assento.
Acompanho sempre que possível as publicações neste jornal, a respeito da minha querida Taquari, como ex colaborador que fui neste conceituado órgão de imprensa local.
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Está totalmente equivocada as ilações feitas pelo colunista, quando supõe a existência de questões de alcova e lençóis, que teriam provocado o desentendimento entre o Padre Romero e familiares de Antônio Porfirio. Almerinda, filha de Antônio Porfirio, era casada com Aleixo Rocha da Silva , que era inimigo do Padre Campos Romero por questões políticas, bem como outro irmão de Almerinda. Quando o Padre Campos Romero era intendente do município, Aleixo Rocha e um cunhado, e outros correligionários, cercaram a casa do Padre Campos Romero. Esse conseguiu fugir e se escondeu durante dias na casa de um amigo. O governador Borges de Medeiros enviou uma força policial para desfazer o cerco que ameaçava o Padre, intendente municipal, do mesmo partido de Borges de Medeiros. Aleixo Rocha e um cunhado eram inimigos
Mortais do Padre Campos Romero. Por essa razão não permitiram que o corpo de Antônio Porfirio fosse encaminhado à Igreja , pois Campos Romero era o Pároco. Esse episodio está registrado num dos livros que tratam da história de Taquari. Pode ser na Monografia de Taquari, de Otávio Augusto de Faria, A paróquia de Taquari, de Monsenhor Balén, ou São José de Taquari, Livro escrito por Riograndino Da Costa e Silva(que era filho de Aleixo e Almerinda). Quem gosta de história e quer saber de Taquari deve ler esses três livros. Paulo de Araújo Costa.
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Só para registrar que o comentário acima não é anônimo. Eu não preenchi o nome no espaço adequado antes de digitar o comentário.
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Paulo gostaria de saber qual era o nome dos filhos do Antônio para uma pesquisa pessoal de família se puder responder sou grato!
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Olá Paulo! Vivo em Portugal e estava pesquisando sobre a familia do meu pai …este senhor Antonio Porfirio era meu trisavô e eu gostaria de saber sobre essa historia. Agradeço se puder ajudar com qualquer informação sobre a família..
obrigada
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Prezado colunista,
Existem algumas informações desconexas em seu texto, por isso me obrigo a responder, preenchendo as lacunas que tomo por errôneas.
O autor está correto nas informações pessoais sobre o coronel Antônio Porfírio da Costa (APC). Ele nasceu em Mostardas em 1850, mudando-se para Taquari por volta de 1878. Seu irmão, José Porfírio, já estava estabelecido com armazém nessa cidade pelo menos desde 1876. Foi a seu convite que Antônio largou o emprego como caixeiro dos Mostardeiro, em Rio Grande, indo tornar-se sócio no armazém mencionado na crônica.
O sucesso comercial de Porfírio & Irmão pode ser explicado, em parte, pelas vastas e extensas alianças políticas que APC fez ao longo da vida, com os principais expoentes republicanos do Estado. Era amigo pessoal tanto de Júlio de Castilhos como de Borges de Medeiros, como o atestam diversas missivas encontradas até hoje no acervo pessoal da família Costa.
Analisando a trajetória de APC como homem público, é impossível deixar de percebê-lo como chefe republicano na região. Por exemplo, em 1884 foi nomeado suplente do juízo municipal do Termo de Taquari, cargo que, na época, era mais sinal de prestígio político do que de mérito judiciário. Dois anos depois, aparece como fundador do Clube Republicano de Taquari, o 3 de Maio, sendo seu 1º Secretário. Receberia carta pessoal do “Patriarca” por esse feito. Em 1889, será na sua casa que o eminente republicano Demétrio Ribeiro ficaria hospedado, para o qual realizou uma “muito falada festa republicana”. Todas essas informações encontram-se nos jornais gaúchos do período.
Entretanto, tudo isso não impediu que membros de sua família se tornassem adversários “nas urnas”.
Dois meses antes do óbito de APC, ocorria em Taquari diversas reações contrárias à intendência provisória do vigário padre Romero, partidário do borgismo, correligionário de APC. Conforme noticiado no jornal A Federação de 6 de março de 1913, em “domingo último, cerca de 9 horas da noite, um grupo regulando trinta pessoas, entre as quais alguns menores, tentou desacatar o Padre Romero, intendente provisório daquele município”: Esse grupo, dirigindo-se à casa paroquial, quebrou diversas vidraças, enquanto gritava: “Fora o padre Romero, viva a liberdade”. No caminho, pararam na casa de APC, onde encontrava-se Romero, instigando-o a sair para encontrá-los. Quem recebeu a “turba” foi o dono da casa, que os exortou a procurarem resolver suas questões pelos “meios legais”, e não pelo protesto. Ao não serem atendidos que os revoltosos dirigiram-se à igreja, profanando-a. Dentre os membros do grupo foram reconhecidos, vejam só, “Aleixo Rocha Silva, Waldomiro Martins Bizarro, Licínio Villanova, Antônio Mesquita Costa, Antônio Rodrigues Castro, Belarmino Martins Bizarro, João Martins Silva” – Aleixo, genro de APC, e Antônio Mesquita da Costa, seu filho.
Entendo a fascinação que os mexericos históricos nos fazem sentir, querendo sempre encontrar na documentação algum segredo, alguma sujeira. Mas a análise do registro de óbito de APC (que o autor o menciona de forma bastante incompleta) deve ser lida, primeiramente, em face aos acontecimentos contemporâneos à sua produção. Essa é uma regra básica da pesquisa histórica! Se dois meses antes de seu falecimento, APC e Romero estavam envolvidos em uma disputa – política! – extremamente acalorada com um grupo adversário, que chegou ao limite de quebrar as vidraças da igreja matriz da cidade; e se esses mesmos adversários políticos foram mencionados pelo próprio alvo da revolta no óbito de APC, desculpe-me o autor, mas uma única conclusão existe: Romero utilizou-se do enterro de APC para fazer palanque borgista. O próprio padre menciona isso na conclusão de seu registro – o faz em “protesto”.
Para que os leitores dessa página tenham acesso à informação integral, transcrevo abaixo o registro de óbito, em sua totalidade:
“Aos 4 de maio de 1913 nesta paróquia de São José de Taquari faleceu Antônio Porfírio da Costa com 64 anos de idade, casado com Alzira Mesquita. A sua alma deixou de ser encomendada na Igreja porque, para desacatar o principio de autoridade espiritual e com grave escândalo dos fieis, os seus filhos Antônio Mesquita da Costa e Almerinda Mesquita da Costa e o seu genro Aleixo Rocha da Silva, não consentiram de que fora conduzido o corpo à Igreja, da qual sempre o morto havia sido benfeitor, para receber os últimos sufrágios. Foi um ato justamente reprovado por todos, por quanto, esquecidos do sentimento filial tripudiaram sobre as crenças daquele que sempre deviam respeitar para dar vazão aos seus instintos menos dignos contra a autoridade paroquial legitimamente constituída. O seu corpo foi sepultado no cemitério desta cidade. Paz à sua alma e que Deus perdoe aos filhos que assim procederam sem terem consciência da grave falta que cometeram e do escândalo que causavam esta paróquia. Esse escândalo era tanto maior quanto o morto era um conceituado industrialista, frequentador assíduo da Igreja até os últimos momentos e um de seus principais benfeitores nesta cidade, e os seus filhos não podiam ir de encontro ás crenças de seu pai, e menos ainda servir-se de sua morte como instrumento de seus juízos. E para constar, junto com o meu protesto, faço este assento. Vigário Manoel Campos Romero”.
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