No momento em que proteção é palavra de ordem, muitos “encontros” de Dia das Mães serão à distância
Retribuir o carinho recebido ao longo da vida é um dos objetivos do dia dedicado às mães. Tradicional data de encontros e almoços festivos, o Dia das Mães será diferente em milhares de casas neste ano. E tudo por um motivo: proteção.
Pode parecer contraditório, mas, em meio à pandemia do novo coronavírus (covid-19), “proteger” pode significar “se manter longe”. Neste momento, para preservar a própria saúde e a de quem se ama, estar afastado se torna fundamental. Certamente, saudade não falta. E, para amenizá-la, se recorre à tecnologia. Então, nessa data, a maneira de homenagear mães e avós precisou ser ressignificada.
Morando em Porto Alegre há alguns anos, Joana Ribeiro, 28, visitava quinzenalmente a casa dos pais (Maria José e Ivo), em Taquari, no bairro Coqueiros. Nos outros finais de semana, muitas vezes, eles é que iam vê-la na capital. No entanto, há 50 dias, os encontros passaram a ser só virtuais. Diante da pandemia, se manter distante foi, para Joana, uma obrigação. “Obrigação que, mesmo com o coração apertado, cumpro com o maior prazer, pois sei que é a melhor forma de preservar a vida das pessoas que eu amo.”

Convivendo diariamente com a saudade, a jovem relata a falta que sente de abraçar, estar junto e tomar chimarrão com as pessoas queridas. Saudade de “poder planejar a vida com o mínimo de certezas”. Sem necessidade de muito planejamento, o Dia das Mães era sempre oportunidade de reunir a família. Tradição que se mantinha há quase três décadas. “Em 29 anos, será a primeira vez que passarei o Dia das Mães longe da minha. Em 1991, nessa data, eu já estava com ela, ainda que na barriga.”
Apesar da vontade de estar perto, Joana não cogita visitar a mãe. “Considerando tudo o que estamos vivendo, para mim não é uma opção mudar o distanciamento, pelo menos não até a poeira baixar.” Videochamadas e ligações poderão, pelo menos por ora, abastecer o estoque de carinho entre elas neste momento. “Sei que o melhor presente que posso dar à minha mãe é ficar quietinha em casa, preservando a minha saúde e a dela e do pai também”.
Situação semelhante vive Marina Couto, 26. Com a diferença de que ela e a avó, Arani Castro, 72, moram na mesma cidade, apenas em bairros diferentes. As duas se mantêm distantes desde o feriado de 19 de março, quando toda a família almoçou junta. “Minha avó sempre foi uma pessoa informada e, ciente da situação do mundo perante esta pandemia, sabe que o isolamento não é uma escolha, mas uma necessidade para a sua proteção. Não estamos indo visitá-la para cuidar dela”.

Normalmente, no mínimo duas vezes por semana, Marina e Arani almoçavam juntas. Considerando as visitas que fazia à casa de sua avó, elas se viam em torno de quatro vezes semanalmente. Por isso, o mais difícil tem sido lidar com a saudade. Para abrandá-la, falam-se todos os dias através de um aplicativo de mensagens ou se ligam. “Era um ritual chegar e dar um beijo na vó. Então, hoje, quando vou entregar uma compra ou outra, o coração fica apertado por vê-la de longe e por um tempo muito pequeno. Ir embora e deixar ela ali, sozinha, está sendo a pior parte desta pandemia”.
Normalmente, o Dia das Mães era celebrado no apartamento de Arani, com um almoço de família. “Vai ser um domingo difícil, mas sabemos que tudo isso que estamos fazendo só tem um propósito: a saúde e o bem-estar dela.” Marina garante que, mesmo assim, haverá homenagens repletas de carinho — virtualmente. “Deus me presenteou com uma mãe, uma avó e uma tia. Tenho a sorte de sempre poder contar com as três. Passar o dia longe delas vai ser um ato de amor. Quero vê-las cheias de saúde quando tudo isso passar.”