
LEONARDO BOFILL VANONI
Juiz da 1ª Vara da Comarca de Taquari
Parece que vivemos uma ficção dramática cheia de suspense e sem spoiler. A incerteza é sufocante, e os sorrisos são raros. Há pouco o que se comemorar, mas muito com o que se preocupar, no presente e no futuro. Neste cenário desenhado pela pandemia, no meu isolamento, a reflexão se tornou uma prática ainda mais frequente. Entre elas, nesta semana, muitas vezes pensei sobre o meu curso em Taquari. E já faz três anos que começou…
Encerrei um ciclo de sucesso pessoal e profissional em Caçapava do Sul em abril de 2017. Não foi fácil a despedida… Por outro lado, estava aberto e motivado a outro desafio. A rota da vida me chamava para mais perto da capital. E sabia que enfrentaria algumas dificuldades no início. Toda novidade pessoal e profissional traz seus obstáculos, onde quer que seja. O calor da recepção do povo taquariense, no entanto, deixou tudo bem mais fácil.
Havia muitas coisas a serem feitas pelo Judiciário na Comarca de Taquari. Trouxe comigo meu assessor e fiel escudeiro. Também encontrei uma equipe muito qualificada na 1ª Vara Judicial, unidade da qual assumi a titularidade. Ainda contei, desde o princípio, com a cooperação e o respeito da comunidade jurídica local. Tudo conspirava a favor de um triunfo em prol da efetividade, da adequação e da tempestividade da jurisdição.
Primeiro foi necessário atacar a problemática central: diminuição do tempo de tramitação dos processos, redução do resíduo e qualificação das relações interinstitucionais. Junto a isso, implementei o meu estilo de trabalho, direcionado sempre à pretensão de correção e à conciliação entre produtividade e qualidade. Após, outras situações administrativas mereceram atenção: apresentação de presos a audiências (que tinha um índice muito baixo), reforma do prédio do fórum (há muitos anos pendente), retomada da comissão mista, criação do conselho da comunidade, etc. E nesse contexto passamos por alguns acontecimentos extraordinários: execução da reforma do prédio do fórum, implementação de sistemas de processos eletrônicos e de videoconferência para audiências, greve dos servidores e, por fim, a pandemia.
Sempre me cobrei um engajamento social maior do Judiciário nesse tempo, o que invariavelmente era abafado pelo elevado volume de trabalho. Via nas verbas das penas alternativas e das alternativas à pena um meio de o Judiciário auxiliar a comunidade de uma forma mais efetiva. E nesta pandemia surgiu a oportunidade (e a necessidade) de destinar substancial valor ao hospital São José, para equipá-lo no enfrentamento desse inimigo invisível e cruel. Certamente não acontecerá causa mais importante.
Completo esses três anos, profissionalmente, com a sensação de dever cumprido. Houve um bom avanço. Muitos daqueles objetivos iniciais traçados foram atingidos. O prédio do fórum foi completamente reformado, há menor número de processos tramitando e mais celeridade no seu andamento, temos relações interinstitucionais colaborativas na comarca, ocorreu a implementação exitosa de sistemas de processos eletrônicos e de audiências por videoconferência. E isso apenas foi possível com o trabalho incansável de uma equipe incrível, inclusive neste momento crítico, que muito me orgulho de coordenar. Sou grato especialmente a todos os servidores e estagiários da 1ª Vara Judicial, estendendo tal sentimento aos demais e à colega Mariana Pacheco, com quem divido os louros das conquistas administrativas e da superação dos eventos extraordinários.
Taquari já é um capítulo de destaque da minha vida. Aprendi a gostar das pessoas daqui, das coisas daqui. São raízes sólidas, que se estendem à minha esposa e parceira de vida, Flávia. O dia da partida chegará, mas Taquari sempre estará nos nossos destinos. Um bom mate na beira da lagoa Armênia sempre será o portal para voltar no tempo e lembrar tudo isso. Vou contar que aqui fui muito feliz e tive o privilégio de atuar como juiz de direito na comarca. Enquanto isso não ocorre, há muito o que se fazer e desfrutar.