Clélia Bayer Piagetti vive na cidade de Sheffield, a sexta mais populosa do país

Clélia, o marido e os filhos
Foto: Arquivo Pessoal
Ela saiu do Brasil em 1987 para morar em Londres, na Inglaterra, com o marido também brasileiro. Passados seis anos, mudaram-se para a Alemanha, onde tiveram o primeiro filho.
Em 1996, retornaram para o Brasil e viram a família aumentar com a chegada da filha mais nova. Permaneceram aqui até 2007, quando rumaram para a China, regressando em 2017.
No ano passado, uma oferta de emprego vantajosa e a busca por uma vida mais segura e tranquila os fizeram voltar para o país asiático.
Natural de Taquari, Clélia Bayer Piagetti, 56, conta a seguir como tem sido encarar a pandemia do coronavírus na cidade de Sheffield, a sexta mais populosa da Inglaterra, para onde viajaram em janeiro deste ano, a fim de visitar parentes.
Receosas de retornar para a China em razão do coronavírus, ela e a filha de 15 anos, completados durante a quarentena, decidiram ficar em Sheffield. De lá, Clélia dá o sétimo depoimento da série “Pelos Cinco Continentes”.
“A situação está bem crítica”
Moro no centro-norte da Inglaterra. No momento, a situação da covid-19 aqui está bem crítica, com quase 140 mil casos confirmados e 19 mil mortes. O governo anunciou o lockdown aproximadamente há seis semanas. As pessoas só devem sair de casa para ir ao mercado ou à farmácia (mas, de preferência, fazer as compras online) e para trabalhar (se não for possível de casa). Somente estão abertos mercados, farmácias, pet shops e restaurantes que fazem tele-entrega. Todos os outros estabelecimentos estão fechados.
Minha filha está fazendo aula online, serviço oferecido por todas as escolas da Inglaterra no momento. Meu marido trabalha na China, e o plano era ele vir a cada dois meses à Inglaterra. Mas não vem sendo possível. A China não está recebendo voos, de forma que ele não poderia retornar depois, mesmo tendo visto de residência lá.
Procuro fazer o máximo de compras online, indo ao mercado somente em último caso e bem protegida, com máscara e luvas, pois, sendo diabética insulinodependente, pertenço ao grupo de risco. Os mercados do meu bairro são pequenos. Então, é permitido entrar apenas cinco de cada vez (um por compra). Os que ficam esperando nas filas do lado de fora têm que respeitar as marcações de dois metros de distância. Antes do isolamento, o povo correu às compras, e faltaram muitos produtos. Mas, aos poucos, as prateleiras dos mercados estão ficando mais abastecidas.
Sheffield registra um dos maiores números de casos depois de Londres. A cidade tem 585 mil habitantes e já registra 1.900 casos e 150 mortes. Porém, temos que considerar que aqui estão alguns dos melhores hospitais do interior da Inglaterra, e o serviço de saúde é ótimo, tanto que pessoas de outras cidades vêm se tratar aqui.
Para ajudar a população, o governo está pagando 80% do salário daqueles que não estão podendo trabalhar no momento (até um teto de 2.500 libras) e ajudando também os profissionais autônomos.
No início do isolamento, toda a comunidade do bairro recebeu uma carta com o nome e o telefone da “coordenadora” da rua que, juntamente com uma equipe, está se colocando à disposição das pessoas em isolamento que têm alguma dificuldade e dando o passo a passo de como pedir ajuda para, por exemplo, buscar alguma compra, remédio ou até para uma conversa amigável por telefone.