Elisa Kern de Castro, 43, dá detalhes da situação que vive com a família em Mafra

A taquariense, o marido e os filhos
Foto: Reprodução/Facebook
Após rápida pausa, a série “Pelos Cinco Continentes” está de volta, com mais um depoimento que chega da Europa, desta vez de Portugal, a dar detalhes sobre como andam as coisas por lá em tempos de pandemia.
A seguir, a psicóloga e professora universitária Elisa Kern de Castro, 43, fala acerca da situação que vivencia com a família no município de Mafra, situado no distrito de Lisboa. Ela é esposa de Vasco Figueira, com quem tem três filhos: Cecília, Sofia e Antônio.
Elisa nasceu em Taquari, filha de Maria da Graça Kern Castro (já falecida),
e permaneceu na terra natal até os 16 anos. É neta de Elói Kern e Olga Cruz Kern.
“Apesar de tudo, há uma sensação de segurança”
Desde que o governo português decretou estado de emergência, ainda em março, as escolas fecharam, e apenas os serviços essenciais ficaram em funcionamento, situação que se mantém até agora. Com isso, temos ficado realmente confinados.
Como sou professora universitária, as universidades desde então passaram a ter todas as atividades à distância. Não é fácil, mas tenho dado aulas online, feito reuniões, investigação, tudo desde minha casa, com os filhos ao redor, o que dificulta bastante.
Além de trabalhar em casa e ter os filhos sem ir à escola, também se acumulam os trabalhos domésticos, limpeza, refeições, tudo 100% feito por nós. Todos ajudam na medida do possível, mas realmente a carga de trabalho aumentou bastante.
O povo daqui tem se comportado bem. As ruas estão vazias. Quando é preciso sair para ir ao supermercado, por exemplo, em geral as pessoas usam máscaras, luvas. A prefeitura daqui distribuiu máscaras para toda a população, para que não houvesse desculpa para não as usar. Isso foi bastante positivo.
Nas idas ao supermercado, algumas vezes, tem fila, pois só ingressa um determinado número de pessoas por vez, havendo senhas para entrada. Mas, em geral, não há muita espera. De início, houve uma preocupação maior se haveria desabastecimento. Com o tempo, isso passou. Os serviços essenciais estão funcionando bem.
As orientações do governo são para que todos fiquem em casa. Só saem para trabalhar as pessoas que estão nos serviços essenciais, com toda a proteção necessária (profissionais da saúde, alimentação, transporte etc.). O governo incentivou o teletrabalho na medida do possível (situação na qual me encontro).
Escolas e universidades permanecem sem aula presencial e seguirão assim até o fim do ano letivo (em junho). Meus filhos estão tendo aula online e realizam os trabalhos em casa. O governo disponibiliza um canal de TV para aulas, de acordo com a série em que o estudante se encontra.
Como toda essa situação gera problemas financeiros sérios para muitas pessoas, há uma série de ajudas que o governo está fazendo, como redução do preço da água e gratuidade dos transportes públicos para quem precisa sair para trabalhar. Quem tem filhos menores de 12 anos pode pedir licença remunerada pela segurança social, para não ter que trabalhar, entre outras medidas.
Quanto ao comércio, estão abertos supermercados, mercados, padarias, açougues, farmácias e restaurantes apenas para tele-entrega. Shoppings centers e comércios de outros tipos estão fechados há mais de um mês. Como o país vive muito do turismo, hotéis e restaurantes estão realmente sofrendo muito com essa crise.
Em Portugal, porém, a situação não chegou a ficar como na Itália ou na Espanha. O vírus apareceu por aqui um pouco depois. Imediatamente, a fronteira terrestre com a Espanha foi fechada, e os voos, controlados. A população obedeceu ao confinamento, e o pico que se esperava de contaminação nunca aconteceu. Como dizem aqui, estamos num “planalto”, e não num “pico”, em função de todas essas medidas.
É importante salientar que a população está sendo testada. A taxa de testagem aqui é boa. Portanto, os dados são confiáveis. A taxa de mortes é de 2% apenas. Hoje, segundo o jornal “O Público”, havia 21.379 casos registrados, 917 pessoas recuperadas e 762 mortes. Os hospitais não chegaram a entrar em colapso, embora as equipes de saúde estejam exaustas e muitos profissionais tenham sido infectados.
Há um número de telefone disponível 24h para as pessoas ligarem e relatarem se tiverem sintomas. A partir daí, são encaminhadas para algum centro de referência. Disponibilizaram também um número de apoio psicológico por telefone 24h, uma vez que muitas pessoas ficam ansiosas e sofrem por estar vivendo tudo isso. Acho que, apesar de tudo, há uma sensação de segurança e de que todos estão fazendo seu melhor.