Articulista escreve sobre dicotomia herói-bandido que envolve figuras históricas
JOÃO DO PAÇO
João Paulo da Fontoura, em sua monografia “São José de Tebiquary”, escreveu, página 231, em relação ao presidente Costa e Silva: “A mim, como escritor e historiador, é muito desagradável e pouco inteligente misturar questões políticas/ideológicas com ações individuais, pessoais. Os indivíduos são produto de suas épocas e do contexto em que viveram. Eu, por exemplo, tenho o presidente Getúlio Vargas como o maior brasileiro do século XX, mas sei, por dever de honestidade intelectual, que ele foi ditador, sim – é o contexto, a época, são as vicissitudes. Então, pergunto: se o ditador Vargas está no panteão dos políticos brasileiros, por que não nosso conterrâneo?”.
Sobre essa dicotomia herói-bandido, vejam abaixo um inserto do livro “As Entrevistas de Putin”, do cineasta e intelectual norte-americano Oliver Stone, totalmente comprometido com as teses da esquerda. Stone escreveu e dirigiu o mais pungente filme de guerra já produzido, “Platoon”, a propósito da cruenta guerra do Vietnã.
Oliver Stone: “Antes de encerrarmos, apenas um comentário acerca de Stalin. Você disse coisas negativas a respeito dele, e, sabemos muito bem, ele é amplamente condenado no mundo. No entanto, ao mesmo tempo, todos sabemos que Stalin foi um grande líder no tempo da guerra. Ele conduziu a Rússia a uma vitória contra a Alemanha, contra o fascismo. O que você conclui dessa ambiguidade?”.
Vladimir Putin: “Stalin é um produto de sua época. Você pode tentar demonizá-lo o quanto quiser. Procuramos falar a respeito de seus méritos em alcançar uma vitória contra o fascismo. Quanto a sua demonização, houve outras pessoas assim na história. Por exemplo, Oliver Cromwell. Ele foi um sanguinário que chegou ao poder na onda de uma revolução e se converteu num ditador e tirano. Mas monumentos dele ainda estão espalhados por toda a Grã-Bretanha. Outro, Napoleão, é endeusado. O que ele fez? Usou a onda do ardor revolucionário e chegou ao poder. E Napoleão não só restaurou a monarquia como se proclamou imperador. Além disso, levou a França a uma catástrofe nacional, a uma derrota completa. Há muitas situações, muitas pessoas assim, mais do que o suficiente na história mundial. Acho que a demonização excessiva de Stalin é uma das maneiras de se atacar a União Soviética e a Rússia…”.