Em artigo, profissional aborda temática do Setembro Amarelo
MARIANA BRANDÃO
Psicóloga
Desde 2003, 10 de setembro é lembrado como o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Inspirado nessa data, o Centro de Valorização da Vida iniciou no Brasil, em 2015, a campanha Setembro Amarelo, apoiado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
A grande importância do Setembro Amarelo está na oferta de espaços para falarmos desse assunto. Porque, quando a angústia escoa pela palavra, ela já não tem a mesma força. Aquilo que vira palavra se torna material de trabalho terapêutico. Mas, quando não conseguimos falar, tem-se muito pouco a fazer.
Hoje, sabemos que, no momento em que alguém diz que quer morrer, não deseja terminar com sua vida. Porém, diante da vontade de cessar a dor, exterminar o sofrimento, estancar a angústia que sente, não vê outras saídas a não ser a morte. Por isso, dar voz a esse assunto é fundamental para esclarecer ao sujeito em sofrimento que ele tem alternativas possíveis para viver, sem a dor que tanto o atormenta.
Em tempos nos quais medicamos quase tudo cedo demais, temos de tomar cuidado para não retirar do sujeito a possibilidade de falar. É preciso transformar sofrimento em palavra. É claro que falar de uma dor não é o mesmo que eliminá-la. Por vezes, pode até aumentá-la temporiariamente. Mas é preciso apostar em algo. E essa aposta é também na possibilidade de quem sofre se reconectar com o outro, fortalecer o laço social que dá sentido à vida, na relação com as pessoas de sua história.
Não há notícias de um ser humano sequer que tenha escapado em definitivo da morte, e é próprio de nosso psiquismo imaginarmos nossa morte, em alguns momentos. Entretanto, é só na medida em que simbolizamos esse desejo de morte que ele pode se transformar em desejo de vida… enquanto ela houver. Para isso, é necessário que haja escuta qualificada e muito cuidado na condução do tratamento.
Não há possibilidade de resolver a vida partindo para a morte, pois, como disse a jornalista Eliane Brum, “a morte é o contrário do nascimento; a vida não tem contrários”.