Primeira Pessoa

O grito de independência e as consequências da atitude de Dom Pedro I

Pós-graduada em história do Brasil, Sandra Terezinha de Andrade reflete sobre o 7 de Setembro

Pós-graduada em história do Brasil, Sandra Terezinha de Andrade reflete sobre o 7 de Setembro

Na data em que se celebra a independência do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822, “O Taquaryense” traz as reflexões da professora Sandra Terezinha de Andrade. Formada em história e pós-graduada em história do Brasil pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), ela atuou por 25 anos em sala de aula e está aposentada desde 2017.

Sandra costuma dizer que o conhecimento da história facilita a leitura do mundo. “A História nos dá a caminhada dos povos até os dias de hoje, para que a gente possa entender o desenvolvimento de cada um deles”, afirma, ponderando que o foco principal tem que ser a população. 

Confira, a seguir, a íntegra da entrevista concedida ao “Primeira Pessoa”, em que ela aborda o contexto do grito de independência e as consequências da atitude de Dom Pedro I.

Como era o Brasil no período em que foi proclamada a independência?

O Brasil, até 1822, estava submetido ao colonialismo português, cujo sistema econômico e social baseava-se na produção monocultora, em grandes latifúndios, para exportação e exploração dos minérios existentes, com mão de obra escrava. Esse sistema atendia ao mercantilismo montado pelas metrópoles ibéricas, cuja riqueza provinha do acúmulo de metais preciosos. Para atender ao mercantilismo e ao monopolismo português, era vedada à colônia qualquer produção industrial, pois os produtos industrializados eram comercializados pela própria metrópole. 

Com a vinda da corte portuguesa em 1808 para o Brasil, foram proporcionadas algumas melhorias, como permissão da criação de indústrias, abertura dos portos para o comércio com outras nações, modernização da cidade do Rio de Janeiro, onde a corte ficou instalada, etc. O surgimento do capitalismo industrial colocou em xeque todo o sistema mercantilista, assim como o sistema colonialista, que não atendia aos interesses da indústria nascente. Esses foram alguns dos fatos que levaram à independência do Brasil.

O senso comum diz que a independência aconteceu de forma pacífica, sem derramamento de sangue. Foi isso mesmo?

Dizer que não houve derramamento de sangue é ignorar que, no bojo da maioria das revoluções do período colonial, estava o desejo separatista (Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Revolução Pernambucana). Muitas vidas foram ceifadas. Estava expresso o descontentamento da burguesia comercial, que atuava na colônia, com os altos impostos cobrados pela metrópole. 

Por outro lado, a independência efetiva foi apenas a substituição da monarquia portuguesa de Dom João VI pela monarquia brasileira de seu filho Dom Pedro I. “Faça a independência antes que algum aventureiro o faça.”

É possível afirmar que a independência do Brasil, de fato, só foi acontecer anos mais tarde?

A independência brasileira foi um processo comandado pelas classes dominantes, que tinham como finalidade preservar a liberdade de comércio e a autonomia administrativa do país. Por isso, em nada modificou as condições de vida da maioria dos brasileiros, até porque grande parte dessa população permaneceu escrava por mais de 60 anos após a independência. Todos os países da América passaram a ser República, só o Brasil ficou como Monarquia.

Os Estados Unidos da América foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil em 1824, pois tinham interesse em estender sua influência sobre o continente americano: “A América para os americanos”. Portugal foi o último país a reconhecer a independência em 1825, após a pacificação das revoltas do Norte e do Nordeste brasileiros, cujo comércio era dominado por empresários portugueses que não tinham interesse em desvincular o Brasil de Portugal.

Há quem defenda que até hoje o Brasil sofre consequências por ter sido tão explorado enquanto colônia de Portugal. Concorda?

O Brasil foi uma colônia de exploração conforme os moldes mercantilistas e colonialistas adotados pelos países ibéricos. Não podemos questionar a exploração, mas afirmar que a miséria da maioria da população brasileira e os entraves econômicos, culturais e científicos atuais sejam fruto da exploração colonial é, simplesmente, ignorar os desmandos políticos e tudo a que estamos assistindo nas denúncias e nas condenações daqueles que deveriam promover o desenvolvimento do país. Eles ainda não aprenderam o verdadeiro significado da democracia. Não sabem separar o que é público do privado, esta, sim, herança da monarquia hereditária, como afirma Sérgio Buarque de Holanda no livro “Raízes do Brasil”.

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