Locutor discorre sobre sua relação com a Rádio Açoriana desde a infância

Valmor Pereira em cobertura do Carnaval de Taquari | Foto: Arquivo Pessoal
VALMOR PEREIRA
Radialista
Era início da década de 1970. Ele, ainda menino, humilde, morador da periferia da cidade, não tinha acesso aos aparelhos e canais de televisão. Prematuramente, conheceu o rádio, as emissoras de Amplitude Modulada (AM) que atuam na radiodifusão na faixa das ondas médias. Muito cedo, passou a nutrir uma admiração por ela, uma desconhecida e inacessível tentação, num claro exemplo de admiração passional.
Passou-se o tempo – aliás, pouco tempo –, e teve ele, um pacato e desconhecido admirador, a chance da aproximação. Foi amor à primeira vista. No auge da adolescência, ainda humilde e tímido, ele se apoderou de uma coragem vinda não se sabe de onde e deu início a um relacionamento.
No princípio, quem sabe nas primeiras décadas subsequentes, foi uma relação entre irmãos. Mais tarde, ele, ainda jovem, assumiu uma postura mais madura, paternal, vendo nela a necessidade de cuidados, de mimos e de muita dedicação.
Com o correr dos anos, a relação foi se estreitando cada vez mais. Ele já a tratava como filha, aumentando o zelo e igualmente as preocupações. Era uma dedicação diária, explícita e tão clara que se tornou de conhecimento público. A ligação foi tanta que ele passou a acrescentar o nome dela à sua identificação, à sua identidade.
Eis que, de repente, vem o anúncio da enfermidade e da possibilidade de “morte” dela. A notícia cai como uma bomba. Porém, aos poucos, ele vai absorvendo a situação e entende que nada mais resta senão desligar os aparelhos e encerrar um ciclo, uma vida. Não deveria ser assim. Mas ele é impotente para buscar outra saída.
E, desse modo, aquele velho admirador vai assistindo, participando e dando os últimos sussurros ao seu ouvido, sempre repetindo: “Muito obrigado por tudo, por fazer parte da minha vida, por me fazer cidadão, por me fazer radialista e por ter propiciado tantas experiências ao longo de 42 anos de relacionamento direto e mais alguns anos de uma admiração passional!”.
Para os leitores que não entenderam os personagens do texto, explico que “ela” é a Rádio Açoriana, que está encerrando as suas transmissões, fechando as suas portas, e “ele” é o humilde radialista que assina esta crônica.