Especial

Ser pai é dar exemplo

Com uma vida difícil, cheia de obstáculos, Olacir aprendeu com seus erros e pretende deixar um bom legado aos seis filhos

Com uma vida difícil, cheia de obstáculos, Olacir aprendeu com seus erros e pretende deixar um bom legado aos seis filhos

Definido pela esposa como “meio fechado”, Olacir Roque Cardoso se mostrou comunicativo durante entrevista a “O Taquaryense”. Aos 32 anos, o cortador de mato morador do bairro São Francisco relatou sua trajetória, cheia de provações e dificuldades, com emoção e sorrisos. Na conversa, deixou claro o que não quer para a vida de seus filhos. Mais do que isso, demonstrou saber que ser pai é ser exemplo, estar presente e dar amor.

Olacir e a esposa, Aline Ramão da Conceição, se conheceram ainda adolescentes, na escola Assunção, onde os filhos estudam hoje em dia. Ele teve sua primogênita, Emili, aos 19 anos, num relacionamento anterior ao casamento. Depois, vieram Kevylin Andiara, 12 anos, Wesley Kayslan, 10, Willian Josué, 9, e Wayslan Isac, 3. Em 2016, Denilson, 17 anos, que é afilhado de Aline, veio morar com eles. Ou seja, Olacir é pai de seis. “Meus filhos são o maior presente de Deus. Ser pai é uma das coisas mais maravilhosas do mundo. As pessoas dizem que não tem amor como o de mãe, mas elas não sabem o que tenho em meu coração. Meu amor pelos filhos é como se fosse amor de mãe.”

Natural de Alpestre, ele veio bebê para Taquari e se criou na vila Ibrasa. A vida nunca foi fácil para Xinho, como é conhecido. Na infância e na adolescência, precisou lidar com o pai alcoolista e presenciou violência. Aos 15 anos, saiu de casa. “O pai deu amor e carinho para nós, mas faltou alguma coisa. Antes, não podia nem ver ele. Mas meu pai mudou, e hoje sou completamente apaixonado por ele.”

Na escola, ficou por 13 anos, até ser expulso por mau comportamento. Foi usuário de drogas e perdeu tudo o que tinha conquistado. Deixando dois filhos com as avós, ele e a esposa se mudaram de Taquari para tentar se afastar do vício. Não foi suficiente. Chegaram ao fundo do poço. Moraram oito meses em Santa Catarina, onde contaram com a ajuda do patrão de Olacir, que era pastor. Lá, ele decidiu abandonar as drogas. Nessa época, Aline descobriu que estava grávida pela terceira vez.

De volta a Taquari, já “limpo”, Olacir foi diagnosticado com problema renal crônico em 2010. “Eu era saudável. Penso que foi sequela do crack. Foi muito sofrido, eu pedia para Deus me levar.” Ele fez hemodiálise três vezes por semana por cinco anos, até que, às 22h de um 28 de dezembro, recebeu a notícia que tanto esperava: faria o transplante no dia seguinte. Depois da cirurgia, a esposa trabalhou no mato para sustentar a casa. “Mas, com três meses de transplantado, ele voltou ao mato pra me ajudar”, lembra Aline.

A família nunca passou fome, mas teve sérios problemas financeiros. “Meu serviço é complicado. Se a oportunidade é boa, preciso ir. Mas ficar longe dos filhos judia. Cheguei a ficar um mês fora da cidade. Ligava todo dia. Então, nos momentos em que a gente está junto, tento aproveitar ao máximo”, afirma Olacir.

Ao longo do tempo, muita coisa mudou. A cada obstáculo, um novo aprendizado. Ele passou a se relacionar bem com o pai, a valorizar a família, a aproveitar a companhia dos filhos, a acolher quem precisa. A esposa não poupa elogios ao companheiro de uma vida: “Ele é um guerreiro por tudo pelo que passou. Um pai firme, que todos respeitam”.

Os filhos conhecem a história dos pais, não há segredos por lá. A ideia é que o exemplo sirva de lição para eles. “Não quero ver meus filhos passando pelo que eu passei. Dou bastante amor para eles, mas, como sou fechado, às vezes, não demonstro como gostaria e acabo me arrependendo”, confessa Olacir. Consciente das provações pelas quais passou, acredita que Deus tinha um propósito para ele, como homem e pai. “Concluí que tudo acontece na hora certa, é tudo no tempo de Deus.”

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