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Comércio taquariense: meio século de história

Casa Freitas, Casa Hirt, Pégaso, Relojoaria Mallmann, Ane Rose Calçados e Casa do Agricultor permanecem no mercado fiéis a suas origens

Casa Freitas, Casa Hirt, Pégaso, Relojoaria Mallmann, Ane Rose Calçados e Casa do Agricultor permanecem no mercado fiéis a suas origens

Casa Freitas

Em maio de 1962, junto da casa da família Freitas, na Rua Sete de Setembro, em um espaço com 25 m², abriu as portas o comércio de Mário Ernani e Elveni. Ele era alfaiate e ela, filha de Amaro Rocha Pereira, vinda de uma família de comerciantes. No mesmo local onde começou, a Casa Freitas conta, hoje, com 300 m². Trabalha com moda feminina, masculina (também no plus size) e infantil, cama, mesa, banho e lingerie e é administrada pelo filho do casal Jone Jefferson de Freitas.

Ele e o irmão Robson começaram a ajudar na loja ainda crianças. “Iniciei como varredor, passei pelo crediário, vendas, cobrança, até chegar na parte administrativa, onde estou há 36 anos”, conta o empresário. Robson saiu do negócio da família para abrir a própria loja, a Rob605. Jefferson acredita que, para se manter no mercado ao longo de quase seis décadas, foi fundamental se modernizar e acompanhar as tendências, tanto na parte administrativa quanto nas compras, que hoje são feitas por sua esposa, Terezinha. “Participamos das feiras para trazer novidades, prezando sempre pela qualidade e bom preço dos produtos.”

Segundo o empresário, caminhar junto com a evolução e diversificar a loja foram pontos importantes para fortalecer o negócio. “Dificuldades todo mundo passa. Meu pai sempre dizia que a pessoa que faz o que gosta vai ser boa naquilo ali.” A Casa Freitas conta, hoje, com seis funcionários e mais de cinco mil clientes cadastrados. Para fidelizá-los, além de um bom atendimento, a loja oferece pagamento parcelado. “Temos clientes de muitos anos, e é gratificante ver os netos deles também comprando aqui.”

A loja deve parar na segunda geração, pois os dois filhos de Jefferson seguem caminhos distintos do comércio. Mas isso não significa seu fechamento para breve. “Vou trabalhar até onde sentir prazer. Depois, vou alugar o espaço físico. Mas isso é coisa para daqui a uns 20 anos”, assegura o empresário, que hoje tem 55 anos.

Casa Hirt

Lacy Pedrinha Dornelles Hirt e Rosauro Brune Hirt abriram um mercado na década de 1960, na esquina das ruas Othelo Rosa e João Pessoa, 110. Desde então, a Casa Hirt vem sendo administrada pela família e hoje está na terceira geração. Lacy conta que sempre viveu dentro de mercado. Seu pai tinha o Atacado Dornelles, local onde o esposo dela trabalhava antes de abrir a Casa Hirt. “Ele comprou esse prédio do Alfredo Castro, onde era uma cooperativa, e abrimos nosso negócio.”

Depois de Rosauro, Lacy assumiu o mercado e só largou em 2003, pois estava cansada. Foi quando o filho Gérson passou a administrá-lo. Após, veio a neta Elisa, e há dois anos o irmão dela, Bruno, está à frente da empresa. Ele cita o atendimento, a qualidade dos produtos e o preço justo como diferenciais da Casa Hirt. Além disso, são destaques do negócio a fidelidade dos clientes, muitos “do tempo da avó”, e dos funcionários – atualmente, a equipe conta com três; destes, Gessi da Conceição e Tadeu Martins trabalham no local há 24 anos e Meline de Oliveira há 13. “Temos uma família aqui. Nos sentimos em casa”, afirma Gessi.

Se o ambiente acolhedor é o mesmo de décadas atrás, algumas coisas foram modificadas, especialmente no que diz respeito à tecnologia. “Temos a página do mercado nas redes sociais, em que colocamos promoções e horários de atendimento. O pessoal pergunta coisas por ali”, comenta Bruno, que procura trabalhar para acompanhar a evolução, apostando em aumentar a variedade de produtos para atrair cada vez mais o público. “É um orgulho poder continuar o negócio da família. Acho que está dando certo e só tende a melhorar.”

A ideia do jovem de 28 anos é tocar o mercado, pelo menos, nas próximas duas décadas. Notícia que alegra dona Lacy, já que, para ela, a família precisa continuar a história iniciada há tanto tempo. “Sobre o futuro, acho que o dever é continuar e manter sobrenome Hirt.”

Pégaso

Fundado nos anos 50, o posto de gasolina entre as avenidas Lautert Filho e Ceci Leite Costa foi comprado por Nilton Flores da Silva em 1967. O objetivo dele era investir o dinheiro que ganhava negociando carros. Por seis meses, Nilton trabalhou no local, mas, depois, alugou o estabelecimento, que estava muito bem localizado. Por ali passavam todos os ônibus que saíam e entravam na cidade. A rodoviária, à época, estava situada na Rua Sete de Setembro, onde hoje funciona a loja Benoit.

Nilton faleceu ainda jovem, em 1976, e o posto seguiu alugado. Só no ano de 1987 que a esposa dele, Zaida Palagi da Silva, e os filhos, Nilton e Murilo, assumiram o negócio. A abastecedora de combustíveis Pégaso, cuja bandeira é Ipiranga, conta também com lavagem, troca de óleo e lubrificação. Atualmente, a equipe é formada por seis funcionários, sendo que dois deles trabalham no local há bem mais de uma década – Sandro Nunes está há mais de 20 anos e Gérson Schwambach há cerca de 15.

A fidelidade encontrada nos colaboradores também é identificada nos clientes. No entanto, lamenta Zaida, a maioria dos antigos e assíduos fregueses do posto já faleceu. “Alguns dos filhos e netos deles ainda seguem abastecendo, mas não conversam tanto. Os nossos assuntos fechavam”, recorda.

Segundo a proprietária, esse ramo de negócio é difícil, e a abastecedora Pégaso permanece no mercado por insistência. “Estou segurando as pontas, mas muita gente fica devendo. E a inadimplência enfraquece o comércio”, afirma.

Perto de completar 80 anos, ela planeja parar de trabalhar. A ideia da família é alugar ou vender o posto. “O ponto é muito bom, mas não tenho mais pique. A gente praticamente mora aqui. São 32 anos sem férias. Então, é muita entrega, para não ter um retorno tão favorável”, encerra Zaida.

Relojoaria Mallmann

Era setembro de 1969, quando a Relojoaria Universal iniciou suas atividades, na Rua Sete de Setembro, onde atualmente é o Laboratório Grams. Com venda, conserto e fabricação de joias, a loja ficava no térreo e a casa da família Mallmann no segundo andar.

Herberto e Líria e as gêmeas Regina e Rejane vieram de Lajeado para Taquari com o objetivo de abrir o negócio. “Nosso tio tinha relojoaria em Lajeado, e foi ele quem ensinou a profissão para o pai, que, na verdade, era marceneiro”, conta Regina. Ela e a irmã, na adolescência, já ajudavam os pais na loja.

Passado algum tempo, a empresa se mudou para a Rua Albino Pinto, onde permanece há 35 anos. Dona Líria faleceu em 2003, e quatro anos mais tarde seu Herberto passou a loja para as filhas, que alteraram o nome do negócio para Relojoaria Mallmann. Ele faleceu em 2010.

O sustento da casa sempre foi tirado do comércio; por isso, em relação à parte financeira, as irmãs evitam gastos desnecessários. “Sempre conseguimos honrar nossos compromissos. Para o pai, era uma vergonha ficar devendo. Com esforço, seguimos e não podemos reclamar”, diz Rejane. Ela garante que, apesar das crises, nunca pensaram em fechar a relojoaria.

As gêmeas acreditam que a longevidade do negócio se dá graças ao bom atendimento, à honestidade, à simpatia e à boa conversa, além da qualidade da mercadoria. De acordo com elas, isso cativa o cliente. “Tem pessoas que chegam aqui e dizem ‘essa joia ou esse relógio comprei com tua mãe’, e isso é legal”, comentam.

Com a ajuda da tecnologia, a empresa se modernizou. Alguns procedimentos foram facilitados, como as compras pelo WhatsApp e os contatos pelo Facebook. O futuro da relojoaria, porém, é uma incógnita. “Estamos na segunda geração, mas nossas filhas estão em outras áreas”, argumenta Regina. “Vamos seguir até quando a saúde permitir”, completa Rejane.

Ane Rose Calçados

A ausência de uma loja de calçados femininos em Taquari levou Leoni Dornelles Silveira a abrir o próprio negócio. Era outubro de 1969, e a garagem de sua casa, na Rua Othelo Rosa, foi o local escolhido.

Nesse começo, Leoni buscava suas mercadorias em Novo Hamburgo, de ônibus, e, depois, de fusca. A ideia deu certo e, passados dois anos aproximadamente, a empresária levou sua loja para a região mais comercial da cidade.

No decorrer dessas cinco décadas, a Ane Rose Calçados expandiu e se fortaleceu. Atualmente na Rua Oswaldo Aranha, trabalha com sapatos femininos, masculinos e infantis, além de acessórios, como carteiras, bolsas, cintos e produtos de viagem. Três funcionárias atuam nas vendas, e um dos filhos de Leoni, Éverton, e a neta Lívia são responsáveis pelo caixa e crediário. A empresária segue na ativa, administrando seu estabelecimento e fazendo as compras para a loja. “Eu não precisava mais estar aqui, mas é o que eu gosto de fazer. Me sinto bem”, garante.

Vinda de uma família de comerciantes, Leoni conta que a valorização do cliente é fundamental para o crescimento da empresa. “É preciso ouvir o que ele quer, saber do que gosta e trazer as mercadorias certas.” Outro ponto central, segundo Leoni, foi ter um suporte financeiro, desde o começo, para poder superar as crises.

Segundo ela, não existe segredo para o sucesso; o que há é muita dedicação e trabalho. A cada ano que passa, a empresária diz aprender mais sobre compra e venda, o que se transforma em ainda mais experiência. “A gente nunca sabe tudo”, afirma, humildemente. A constante busca por novidades e a modernização da loja são diferenciais. “Precisamos estar sujeitos à mudança sempre, não podemos ficar parados, senão ficamos para trás.” Em relação ao futuro, diz que trabalhará enquanto puder e acredita que os filhos darão continuidade ao negócio. “Se quiserem. Essa é uma escolha deles.”

Casa do Agricultor

A agropecuária de Theobaldo Mallmann inaugurou no ano de 1969, na Rua Sete de Setembro, onde ficou até 2014, quando foi em definitivo para a General Osório, nos fundos do prédio. A Casa do Agricultor era referência para quase toda a região, e Theobaldo, fonte de socorro dos pequenos criadores de animais.

Natural de Estrela, ele veio trabalhar na Granja Sônia, em Taquari. Mais tarde, fez concurso para prático rural e era encarregado de vacinar os animais e auxiliar o veterinário. Em 1980, aposentou-se e foi cuidar do estabelecimento com a esposa, Maria.

Em 1983, Carlos Alberto Carvalho Pereira, o Chico, começou a trabalhar na Casa do Agricultor. Ele conta que o prédio da agropecuária era de seu tataravô, vindo de Portugal. “Era o banco da província. Eu e seu Theobaldo fomos comprando as partes dos herdeiros.” Por 30 anos, Chico atuou nesse negócio e é um grande admirador do trabalho de Theobaldo. “É impressionante como ele sabia das coisas. As pessoas confiavam em seu conhecimento. Aprendi demais com ele.”

Filho de Theobaldo, Paulo Mallmann ingressou na agropecuária por volta de 1987. Paulinho é técnico em agropecuária e está à frente do negócio familiar. Seu irmão Pedro tem uma agropecuária em Bom Retiro do Sul, e o filho é veterinário. Outro irmão, Nico, também atuava no mesmo ramo na cidade de Triunfo, mas já encerrou as atividades.

Ao longo desses 50 anos, ocorreram muitas mudanças na legislação em relação ao cuidado com os animais. Mesmo assim, a Casa do Agricultor se mantém forte. De acordo com Paulinho, para permanecer nesse ramo, é necessário ter a linguagem do colono. “Foi assim que o pai cresceu.”

Hoje, o mundo pet é que sustenta o negócio. Sem planejar grandes mudanças, Paulo Mallmann pretende seguir com a agropecuária até quando puder. “Enquanto eu estiver bem, vou tocar. Por quanto tempo, não sei. O futuro é que sabe.”

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